Naquele clima de total harmonia e melodia, entre Vinícius e Tom, Noel até João Gilberto, exala entre as obras certa alegria. Instaura um sentimento de paz no interior e as pessoas são sorridentes, gentis e coloridas.
Uma hora de apreciação, história, embalos e descontração, foram suficientes para elevar o dia e alimentar a alma. Saí daquele espaço mais leve, mais tranqüila, mais feliz.
Aproveito a ocasião, proximidade, e o belo dia, para ver as obras de Marcel Duchamp que estão expostas no Museu de Arte Moderna até o dia 21 de Setembro. Ao me deparar com a extensa fila de visitantes na bilheteria, mudo de idéia, melhor deixar para outro dia.
Em direção ao portão de saída, mal sabia eu a surpresa que estava por vir até o destino. Atravesso a marquise, passo pelo Museu Afro - Brasil, logo avisto alguns painéis dispostos ao redor do Planetário. Sigo.
“Exposição Filhos do Brasil”, a responsável pela mudança dos meus planos. Não fui embora.
O Programa Filhos do Brasil – Desordem e Progresso é um importante gerador de ações e de projetos sociais que tem como objetivo mobilizar e ser uma caixa de ressonância permanente junto a todos os setores da sociedade: poder público, iniciativa privada, sociedade civil e principalmente os educadores.”**
A partir daí caí na diversidade, pluralidade, e desigualdade: social, cultural, étnica e econômica; deste nosso Brasil. Nada novo, mas quando se percebe assim paralelo e simultaneamente, o choque é maior.
A sensação de paz, a leveza da boa bossa, foi obscurecendo aos poucos, a cada foto, a cada novo piscar. Estabeleceu-se aí a linha fina e tênue que nos separa do País do Futebol, Carnaval, Samba, Rio, Bossa, do País da tristeza, da miséria, da injustiça.
As fotos são de pessoas no ambiente das grandes cidades (faróis, lixões, favelas, etc.), como também do meio rural (carvoarias, escravidão, lavouras, etc.). Com as imagens, foram apresentados dados estatísticos sobre o tema.
Entre 14 painéis gigantes de três faces cada, num total de 42 fotos, capturei as que mais me chamaram atenção. Duas, de crianças gaúchas, minha terra natal sim, daí a atenção enfática; e a terceira, que me despertou pela frase atrás da menina: A maior qualidade de um vencedor é nunca desistir. Ironia do destino?
Bahia
Foto: Trabalho Infantil
“A cena desta criança linda cuidando de outras duas crianças chamou minha atenção pelo olhar perdido da menina e um adesivo alto da porta atrás dela que dizia: A maior qualidade de um vencedor é nunca desistir. Isto mexeu comigo profundamente, pois além de cuidar das crianças e da casa, o que caracteriza trabalho infantil, a menina não estuda, vive o dia no convívio dos traficantes, que movimentam uma boa de fumo bem próxima ao local em que mora com a família, em um dos lugares mais miseráveis da favela – a localidade conhecida como Mangue Seco, onde dentre outras coisas, o esgoto corre a céu aberto e não há coleta de lixo.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:
Artigo 28º - Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.”**
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Fotógrafo: Jorge Diehl
Brasília – DF
Foto: Pequeno Pedreiro
“A imagem foi realizada em 1997 e mostra a dura realidade de uma parcela das crianças gaúchas à extração de pedras para a construção civil. O menino franzino e descalço trabalhava em uma pedreira localizada na divisa dos municípios de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Gravataí, cidades da região metropolitana de Porto Alegre.
O que será que ele está fazendo hoje?
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:
Artigo 60º - É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
Artigo 67º - Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:
I – noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e às cinco horas do dia seguinte;
II – perigoso, insalubre ou penoso;
III – realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
IV – realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.”**
Porto Alegre – RS
Foto: Brasil 500 anos
“Esta foto mostra a situação de descaso e abandono em que vivem as crianças e jovens que são os genuínos Filhos do Brasil. Os indígenas. Como se não bastasse, os índios estão se rendendo aos “encantos” do imperialismo (Coca-Cola).
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:
Artigo 21º. *1º - Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.”**
Porto Alegre – RS
Foto: Monalise – Uma Triste Realidade Indígena
“Estava fotografando os índios Caingangues de São Leopoldo /RS, para a disciplina de foto-jornalismo, com a pauta rostos. Fiz a pauta como devia, mas decidi fazer uma foto diferente, que além de enquadrar a menina, Monalize, também mostrar um pouco da sua realidade naquele momento.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:
Artigo 7º - A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.”**
Obs.: Sem imagem de arquivo. Fiz um vídeo do painel, mas não consegui baixar do celular.
“OS FILHOS DO BRASIL
O Brasil está entre os países com os maiores índices de trabalho infantil. Estima-se que cerca de quatro milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 16 anos trabalhem no Brasil, prejudicando seu desenvolvimento físico, emocional e intelectual.
O trabalho referido é o trabalho adulto — não é mais leve ou menos perigoso pelo fato de ser executado por crianças. É realizado de forma precária, muitas vezes forçado ou escravo, ligado ao tráfico de entorpecentes, exploração sexual, conflitos armados e atividades ilícitas, em geral. Não se pode fechar os olhos a essa ilegalidade, sua expressão configura uma afronta absoluta à dignidade do ser humano e aos direitos humanos.
Fonte OIT BRASIL ”(http://www.idecace.org.br/filhosdobrasil).
A Mostra passará pelas principais cidades do país no período de um ano. Após passar por São Paulo, segue para Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Belo Horizonte.
**Transcrito dos painéis - 24/08/2008